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No dia 24 de julho de 1995 foi ao ar no SBT uma entrevista de Zeca Pagodinho a Jô Soares no programa “Jô Soares Onze e Meia”. Em determinado momento da entrevista, Jô pergunta a Zeca qual a diferença entre partido alto, samba de roda e pagode. A resposta, que pode ser conferida abaixo, é uma divertida forma de, resumidamente, explicar o que são os supergêneros musicais.

“Igual mas diferente”: sim, o partido alto, samba de terreiro e samba-enredo são gêneros musicais diferentes que, reunidos, formam a matriz do samba do Rio de Janeiro. O termo  “supergêneros musicais” é apenas uma maneira coloquial de nomear esse conjunto de gêneros ou ritmos musicais que possuem muitas semelhanças mas tem também suas particularidades… “É igual mas é diferente”.

Quem leu os textos sobre gêneros musicais e ritmos que publicamos na editoria “Gêneros” do blog da Musicloom já consegue dizer quais as diferenças entre esses dois conceitos. Organizá-los em supergêneros musicais, no final das contas, até facilita o entendimento. Assim, podemos chamar xote e baião de forró, mesmo se tratando de ritmos diferentes. 

Supergêneros musicais: quem os estabelece?

Diferente dos instrumentos musicais, que são agrupados de acordo com sistemas de classificação mundialmente reconhecidos e utilizados, não há um único método para organizar os supergêneros musicais. Tanto que, em diferentes lugares do mundo, eles recebem nomes semelhantes como gênero matriz, gênero guarda-chuva, macrogênero, dentre outros.

Outra diferença é a organização que o define. No Brasil, tanto o samba quanto o forró foram definidos como gêneros matriz – termo técnico para supergênero – pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan. Eles estão registrados enquanto Formas de Expressão no Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial.

Já em outros países, como no Japão e nos Estados Unidos, a classificação de gêneros e supergêneros é definida por associações profissionais. A mais famosa é a norte-americana Recording Academy, responsável por promover o mais reconhecido prêmio da indústria fonográfica mundial, o Grammy. A premiação acontece por categorias que representam gêneros ou supergêneros musicais.

Como defini-los?

Quem leu o texto sobre ritmos musicais que publicamos aqui no blog irá se lembrar que eles são fundamentais tanto para a música quanto para a dança. Essa recordação é válida porque, assim como os ritmos, os supergêneros musicais atravessam mais de uma manifestação cultural. Eles são importantes para a música e para as festas.

Se pararmos para analisar a nossa vivência com a música vamos rapidamente perceber que não gostamos de apenas um ritmo ou um gênero musical. Os artistas também não performam apenas um ritmo ou gênero. Mas há boas chances de ouvirmos ou tocarmos um conjunto de ritmos e gêneros semelhantes que nos agradam e que normalmente são reproduzidos em uma mesma experiência musical – seja no ensaio da banda, na playlist do seu serviço preferido de streaming, seja em festas ou festivais de música.

Ritmos são definidos pela estrutura do compasso, pela figuração rítmica, pela acentuação rítmica, pela instrumentação e timbre e pelo andamento. Já os gêneros musicais são caracterizados pelo tema trabalhado, o estilo, as formas, o texto, a função e a contextualização.

Ou seja, são muitos os critérios utilizados para classificar um ritmo ou um gênero. A hierarquia de gêneros organiza-os em supergêneros, gêneros e subgêneros musicais, o que facilita a compreensão da enorme diversidade de estilos musicais existentes.

Portanto, como todas as outras manifestações artísticas, a música conta a história dos povos. Como exemplo, podemos citar o grunge, um subgênero do rock alternativo ou indie rock e de claras influências de outros gêneros como o punk e o metal. Em uma hierarquia de gêneros, o grunge estaria assim colocado:

  • Supergênero → Rock
    • Gênero → Rock alternativo (ou indie rock)
      • Subgênero → Grunge

O grunge foi um dos principais movimentos do rock entre o final da década de 1980 e início da de 1990. Nascido nos Estados Unidos, seus temas, estilo, formas e texto refletiam o desencanto, a apatia e a crítica social da geração X, as pessoas que nasceram entre 1965 e 1980. Essa geração também recebeu a alcunha de “rebeldes sem causa”. E é exatamente essa qualificação que conecta o grunge ao seu contexto histórico…

A geração X também foi chamada de “rebeldes sem causa” em contraposição à geração anterior que hipoteticamente teriam uma “causa” para se rebelar: a Guerra do Vietnã. Quem nasceu entre 1946 e 1964 nos Estados Unidos efetivamente viveu a Guerra do Vietnã. Já a geração seguinte, ou seja, os filhos de quem vivenciou a guerra, não teriam uma “causa” para se rebelar. Entretanto, foram criados por pais que sofreram as sequelas mentais e econômicas da guerra, uma vez que os Estados Unidos entrou na sua maior crise econômica desde a grande crise de 1929.  

O contexto histórico diretamente influenciou no ambiente que os jovens da geração X viviam, oferecendo a eles elementos para formar bandas e criar canções que refletiram o desencanto com a época. Assim, acabaram constituindo um novo subgênero do rock, o grunge.

Ao contar esse resumo do grunge mostramos que, apesar de ter surgido a partir de outros gêneros do rock, ele está fortemente conectado ao contexto histórico. Aí reside a importância dos supergêneros musicais: ao permitir o agrupamento em hierarquia, conseguimos perceber como a música se transforma a partir das suas raízes e da realidade na qual foi desenvolvida e, consequentemente, como ela está conectada à história dos povos.
Agora que você já sabe um pouco mais sobre os supergêneros, que tal encontrar músicos que performam gêneros semelhantes ao que você toca no diretório de artistas da Musicloom? É só navegar pela nossa plataforma para conhecer outros gêneros que podem influenciar na sua música!