“Energia da vida”. O termo em iorubá que significa “força da realização”, “poder espiritual”, “força vital” ou “energia da vida” poderia tranquilamente significar também “música”, já que ela é uma força vital. Talvez não seja por coincidência que o gênero nascido em meados dos anos 1980 tenha ganhado o nome de “energia da vida” music ou axé music…!
Se você nos acompanha aqui pelo blog ou lá no Instagram talvez se lembre quando dissemos que ritmos musicais estão associados a dois tipos de manifestações artísticas, a dança e a música. No Brasil, boa parte dos gêneros musicais mais relevantes estão vinculados a uma outra manifestação da cultura nacional: as festas populares. Assim como o forró está fortemente conectado às festas juninas, há diversos gêneros do país ligados ao carnaval: axé, samba, frevo entre outros.
O axé music nasceu em Salvador, espalhou-se pelo Brasil e alcançou significativo sucesso internacional. Mas tudo isso está conectado a gêneros e ritmos musicais que o antecederam, associados ao contexto da cultura baiana. Siga com a gente neste texto para mergulhar um pouco mais na história e características do axé music!
Nas origens, a matriz musical africana
Talvez você não saiba, mas em números absolutos Salvador é a cidade mais negra do mundo fora da África. Com uma população estimada de cerca de 2,5 milhões de habitantes dos quais 34% se declaram negros e outros 49% se declaram pardos, a capital baiana possui quase 2,1 milhões de pessoas autodeclaradas negras ou pardas sendo que quase 880 mil se reconhecem negras. Nada mais natural para a capital do estado mais negro do mundo fora da África: quase 80% dos habitantes de toda a Bahia se declaram negros ou pardos – aproximadamente 12 milhões de pessoas.
Esse cenário é resultado da formação da população baiana que, por séculos, foi composta majoritariamente por negros escravizados que vieram da África. Eles deixaram descendentes e, com estes, sua cultura – inclusive musical. A matriz africana, cuja base são os instrumentos de percussão, está em diversos gêneros e ritmos musicais da região. Um deles, em especial, exerceu importante influência na constituição do axé: o ijexá.
Tocado por diversos blocos de Salvador, o ijexá sempre foi um dos ritmos mais populares do carnaval. Contudo, na capital baiana, boa parte da popularidade da festa se devia também às invenções de dois músicos soteropolitanos que tocavam frevo. Dodô e Osmar, empunhando guitarras baianas em seu trio elétrico, na década de 1950, criaram as bases da configuração do atual carnaval de Salvador: pessoas andando atrás de um trio.
Daí imagine: de um lado, o frevo. Do outro, o ijexá. De outros lados, ritmos e gêneros musicais que também faziam sucesso na cidade, não necessariamente ligados ao carnaval: o reggae, o samba, o forró, o rock… Os componentes e o contexto; tudo existia em Salvador para que o axé nascesse. Inclusive Luiz Caldas.
Axé music: a Bahia mudando o cenário musical brasileiro
“Fricote”, lançada em 1985 por Luiz Caldas, é reconhecida como a primeira música de axé, gênero que só foi batizado dois anos depois pelo jornalista Hagamenon Brito, em uma coluna de 1987. A canção, cujo ritmo remete a uma marcha, possui arranjos com eletrofones – um teclado – simulando instrumentos de sopro.
“Fricote” virou hit nacional, abrindo caminho para outras canções e seus respectivos artistas: “A roda”, de Sarajane, além de “Senegal” e “Madagascar Olodum”, dois ijexás da Banda Reflexu’s. Ao longo da segunda metade da década de 1980, esses e novos artistas baianos ficaram nacionalmente conhecidos.
O alcance conseguido por todos eles pavimentou o que viria ser a explosão do axé músic a partir do início dos anos 1990. Em 1992, dois discos consolidam o gênero: “Modernidade negra”, do Araketu, e “O canto da cidade”, de Daniela Mercury. O primeiro trouxe arranjos de guitarra e instrumentos de sopro para canções que eram eminentemente tocadas por instrumentos de percussão, apresentando uma nova roupagem para as músicas originárias dos blocos afro de Salvador.
Já “O canto da cidade” abriu caminhos – e mercados – em todo o país para o axé music. Em pouco tempo Daniela Mercury se tornou uma estrela da música nacional. O sucesso da cantora convocou os olhares para a Bahia e rapidamente outros artistas baianos estavam em todos os meios de comunicação de massa: Chiclete com Banana, Bandamel, Cheiro de Amor, Banda Beijo, Asa de Águia e Banda Eva chegaram no topo dos hits nacionais com suas canções.
Como dissemos no início do texto, o axé music é um gênero que nasceu com a rítmica ijexá somada a fortes influências de outros ritmos, como reggae e samba. Um gênero conhecido como samba-reggae, também popular em Salvador nos anos 1980, catapultou um dos seus subgêneros, o pagode baiano, na esteira do axé music. A segunda metade da década de 1990 foi o momento dos conjuntos Gera Samba/É o Tchan, Companhia do Pagode, Terra Samba e Harmonia do Samba ganharem o cenário nacional.
Atualmente o axé segue como um dos gêneros musicais mais populares do Brasil a ponto de alguns dos seus artistas terem ultrapassado as fronteiras do gênero. Ivete Sangalo, uma das maiores intérpretes brasileiras da atualidade, foi a vocalista da Banda Eva entre 1993 e 1999, até se lançar numa estrondosa carreira solo.
Salvador foi o lugar da conexão de gêneros e ritmos, assim como é o diretório de artistas da Musicloom! Lá você encontra músicos de diferentes filiações para formar a sua banda ou apenas para experimentar as inúmeras possibilidades que a capital da Bahia já nos mostrou. Clique aqui, acesse o diretório e inicie as conexões – o próximo encontro de gêneros pode estar a poucos cliques de distância!