Música, dança e festas populares: três elementos da cultura de um povo que frequentemente encontramos numa mesma manifestação. Aqui no Brasil, dentre todos os nossos ritmos musicais, nenhum é tão característico desta fusão quanto o frevo.
Diversos ritmos, gêneros ou supergêneros musicais brasileiros muito populares são fortemente conectados às nossas festas. O axé e o samba são típicos do carnaval, enquanto o forró e o sertanejo estão muito presentes nas festas juninas.
Contudo, nenhum deles efetivamente nasceu da festa e, simultaneamente, enquanto um ritmo musical e uma dança. O frevo tem todas essas características: foi concebido no carnaval e imediatamente desenvolveu, além da música, os elementos da dança. Em pouco tempo ficou popular em Pernambuco, tornou-se o principal ritmo musical do carnaval de boa parte do Nordeste e influenciou fortemente outros ritmos e gêneros musicais. Para conhecer toda essa história, pegue sua sombrinha colorida e siga com a gente neste texto!
Das marchas dos salões para ferver na rua
Bem antes da música e da dança, nasceu o termo. Frevo vem de “frever”, corruptela do verbo “ferver”. Frevo, portanto, remete à efervescência e, de acordo com Pereira da Costa no seu livro “Vocabulário Pernambucano”, à “agitação, confusão, rebuliço; apertão nas reuniões de grande massa popular no seu vai-e-vem em direções opostas como pelo Carnaval”.
Há indícios do uso do termo “frevo” ainda no século XVIII, para designar cortejos de trabalhadores do bairros portuário do Recife, quando eles se juntavam ao som de marchas improvisadas durante os festejos de Ternos (ou Folia) de Reis. Em outras palavras, assim como o forró, o termo “frevo” inicialmente foi usado para designar um tipo de festa popular.
Enquanto ritmo musical, o frevo deriva principalmente da marcha. Para evidenciar a relação, abaixo uma interpretação da Marcha nº 1 do Clube dos Vassourinhas, um clube carnavalesco do Recife, fundado em 1889.
Analisando os elementos que caracterizam ritmos musicais – estrutura de compassos, figuração e acentuação rítmica, instrumentação, timbre e andamento -, a principal diferença entre frevo e marcha está no andamento. O frevo nasce enquanto uma marcha acelerada, com algumas diferenças na instrumentação e na acentuação rítmica. Para tentar deixar ainda mais evidente as semelhanças e diferenças, ouça abaixo a versão em frevo da mesma Marcha nº 1:
No Recife do século XIX, parte significativa do carnaval da cidade acontecia em clubes, animados por marchas que eram interpretadas pelas bandas militares da cidade. Sua base instrumental foi herdada pelo frevo, que é primordialmente tocado por instrumentos de sopro. Com a evolução do ritmo, outros tipos de instrumentos musicais passaram a compor os blocos. Vale mencionar os eletrofones, uma vez que a partir deles o frevo influenciou a criação de outros ritmos e gêneros musicais, com destaque para o axé music.
O frevo tornou-se rapidamente o ritmo preferido do carnaval de rua e nos clubes populares do Recife. Nos de classe média e alta, o frevo passou a dominar os salões a partir da década de 1920.
Frevo: o primeiro ritmo pernambucano a ultrapassar fronteiras
Quem acompanha os conteúdos do blog ou do Instagram da Musicloom sabe que um pernambucano de Exú criou o baião, o principal ritmo do supergênero musical forró. A influência de Luiz Gonzaga na cultura brasileira é gigantesca; contudo, o Rei do Baião não foi o primeiro artista a convocar os olhos do Brasil para um ritmo genuinamente pernambucano.
Famosa em versão marcha e na voz de Lamartine Babo em gravação de 1932, a canção Mulata/O teu cabelo não nega é originalmente um frevo composto pelos irmãos recifenses João e Raul Valença em 1929. A partir da década de 1930, muitos dos principais nomes da história da música brasileira gravaram frevos: Pixinguinha, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Elba Ramalho… Algumas das canções mais representativas da história da música brasileira são frevos: “Atrás do trio elétrico”, interpretado por Caetano Veloso, “Festa do interior”, por Gal Costa e “Banho de cheiro”, por Elba Ramalho são símbolos da música nacional.
Para além de cruzar as fronteiras de Pernambuco, o frevo se consolidou como um dos elementos culturais mais importantes do Nordeste, com grande influência no carnaval de outros centros da região. Ele foi o ritmo tocado no primeiro trio elétrico: seus inventores, Dodô e Osmar, conduziam um bloco de frevo. Ele é uma das principais influências do axé music, gênero musical surgido na década de 1980 que até hoje está entre os mais populares do país. E o frevo ajudou a tornar conhecido outro grande nome da música pernambucana: Alceu Valença.
Embaixador do carnaval de Pernambuco, Alceu Valença compôs e gravou em diferentes gêneros e ritmos musicais, principalmente os nordestinos. Apesar do seu primeiro disco ser fortemente dedicado aos ritmos do forró – com destaque para o baião – Alceu compôs vários frevos, sendo que alguns deles, como “Frevo da lua”, figuram entre os principais sucessos do artista.
Nos dias de hoje, o carnaval de Recife também é embalado por outros ritmos regionais, como o maracatu. Entretanto, o frevo segue sendo o principal ritmo e manifestação cultural. Para além da música e da dança, os blocos evoluíram para outras manifestações: adereços, vestimentas e os famosos bonecos do carnaval.
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