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Convidamos-te a voltar aos primórdios, às raízes mais antigas dos instrumentos musicais… Sim, se você acompanha o blog e o Instagram da Musicloom já sabe que os instrumentos de sopro foram os primeiros a serem criados e nem são obra da nossa subespécie, o Homo sapiens sapiens 😱…!

Estima-se que a flauta neandertal tenha 60 mil anos. Isso mesmo, o instrumento musical mais antigo do mundo é uma flauta doce. Foi com ela que os seres humanos perceberam ser capazes de desenvolver objetos cuja principal finalidade era emitir sons. Em outras palavras, foi um instrumento de sopro que permitiu ao ser humano expressar sua subjetividade por meio da música.

Ao longo de 60 mil anos os instrumentos de sopro deixaram de ser produzidos a partir de fêmures de ursos adolescentes para ganhar diversos formatos, materiais e, junto com os instrumentos de corda e os de percussão, protagonismo na música de diversas culturas. Siga neste texto para entender mais sobre o papel desse grupo de instrumentos musicais em gêneros e ritmos musicais populares!

Ícones da música retratados em mitologias, verso e prosa

Além de antigos, os aerofones sempre foram muito presentes nas comunidades humanas. Registros arqueológicos mostram que as flautas já foram produzidas de ossos de animais, cascas de frutas e madeira. Contudo, para além do que a Arqueologia nos mostra, possivelmente alguns dos registros que mais claramente evidenciam a presença dos instrumentos de sopro desde tempos muito antigos são as histórias fundantes de diversas sociedades. Vamos passear pelas mitologias.

Se você buscar, na memória ou na Internet, imagens da mitologia greco-romana nas quais os personagens estejam segurando instrumentos musicais, muito provavelmente você encontrará figuras com liras ou com flautas. Há boas chances de você se lembrar dos sátiros, criaturas da mitologia grega que eram meio homem, meio bode.

O mais famoso dos sátiros é um deus que dá nome a um aerofone facilmente encontrado em civilizações antigas de todos os continentes. De acordo com a mitologia grega, Pã, o deus dos bosques, criou a flauta de pã após uma perseguição mal sucedida. A história é bem contada no vídeo abaixo:

A flauta também está presente numa célebre fábula europeia, “O flautista de Hamelin”. O personagem principal é um habilidoso flautista que, de passagem pela cidade alemã de Hamelin, percebe uma infestação de ratos. Ele procura os líderes da cidade dizendo-se capaz de acabar com a praga, desde que fosse remunerado para tal. Os líderes concordam e o flautista, tocando seu instrumento, hipnotiza os ratos e os conduz até o rio. Todos se jogam nas águas e morrem afogados.

Contudo, depois de se verem livres dos ratos, os líderes resolvem não honrar o acordo. Irritado, o flautista decide se vingar. No dia seguinte, enquanto os adultos estavam na igreja, o flautista toca uma nova música hipnotizante em seu instrumento. O alvo, dessa vez, eram as crianças da cidade. Elas seguem o flautista que as leva para as florestas da montanha e elas nunca mais são vistas. Quem ficou para contar a história foi a única criança que não foi hipnotizada por ser… surda.

Para diversas culturas, a presença dos instrumentos de sopro vai muito além das fábulas e das mitologias. Na música ocidental as flautas, o oboé e o fagote estão presentes na orquestra desde o século XVII, com o barroco. A partir do século XVIII são introduzidos os instrumentos de sopro produzidos a partir de metais: a tuba, o trompete, o trombone e a trompa.

Aproveitando que mencionamos  metais… Não dá para falar de instrumentos de sopro sem mencionar um supergênero musical anterior ao rock que extraiu dos aerofones tudo que eles têm.

Instrumentos de sopro: jazz e outros ritmos sincopados

Apesar da confirmada existência de instrumentos de sopro de metal no Egito antigo, os aerofones metálicos tornaram-se verdadeiramente populares no século XIX. É nesse período, inclusive, que eles saem dos salões de música clássica e passam a ser encontrados em manifestações musicais populares. E uma certa cidade dos Estados Unidos, na segunda metade do século XIX, tornou-se o lugar propício para a exacerbação da criatividade com os instrumentos de sopro.

Em 1865 encerrava-se a Guerra Civil norte-americana. Desfeitos os exércitos, muitos soldados de baixa patente foram dispensados podendo levar consigo os objetos considerados de baixo valor, como os instrumentos musicais que eram tocados nas fanfarras.

O aumento da concentração desses instrumentos junto aos herdeiros mais pobres da guerra, população que se concentrava nos estados do sul dos Estados Unidos, foi um dos fatores que viabilizou a experimentação musical. Essa condição iria encontrar cenário favorável em Nova Orleans, uma cidade portuária que, devido à sua proximidade com a América Central, recebia muitos migrantes do Caribe.

Com os caribenhos chegaram seus ritmos. O contato com o blues em uma cidade na qual proliferavam os instrumentos das fanfarras – tanto os de sopro quanto os instrumentos de percussão – constituiu-se no cenário perfeito para o nascimento de um supergênero musical no qual os aerofones são centrais: o jazz.

Por ter nascido de outros ritmos sincopados, o jazz já traz na sua genética o improviso, a experimentação. Essa característica abriu espaço para que grandes artistas, com sua imensa criatividade, explorassem ao máximo as sonoridades de diferentes instrumentos de sopro metálicos. O mundo, assim, conheceu Louis Armstrong, Charlie Parker, Miles Davis, John Coltrane e diversos outros.

No Brasil a influência do jazz e a presença dos metais foi muito forte em diversos ritmos, gêneros e supergêneros musicais. Apesar da base instrumental do samba ser os instrumentos de percussão, rapidamente foram inseridos aerofones como a flauta transversa, o trompete e o saxofone, em grande medida pela competência de Pixinguinha com esses instrumentos.

É clara a fusão entre jazz e samba na criação do ritmo que projetou o Brasil internacionalmente, a bossa nova. Tanto que os maiores expoentes da bossa gravaram com diferentes artistas norte-americanos. Foram muitas parcerias, com destaque para as de João Gilberto com Stan Getz, Tom Jobim com Frank Sinatra e Sérgio Mendes com Ella Fitzgerald.

Os instrumentos de sopro também influenciaram fortemente a concepção de um dos gêneros musicais mais populares do Brasil entre os anos 1960 e 1980, o samba rock. As canções de Jorge Ben e Tim Maia absorveram muito da riqueza dos instrumentos de sopro metálico, dando origem a um samba mais dançante e modernizado.

Seja seguindo de forma rigorosa um planejado ensaio, seja improvisando de forma extremamente aberta, você pode reunir-se a metais de outros artistas da nossa comunidade para deixar fluir a criatividade com seus instrumentos de sopro. Para isso, basta acessar o diretório de artistas da Musicloom e marcar os encontros! Força nos pulmões, bora soprar!